segunda-feira, 17 de março de 2014

Quando eu nasci, por Sloterdijk


Quando eu nasci eu fiz força para vir ao mundo. Minha mãe estava nove dedos dilatada, mas eu emergi com a certeza de ser a última. Não fui programada, mas a vida por si só impeliu seu querer.
Foi em uma terça. O dia em que nasce é o seu dia, está escrito, empoeirado pelo mistério.
Encontrei olhos inseguros, mas muito queridos. Miúda em estrutura, meu pai também abençoou, e só. Encontrei ainda um irmão, mas por conta dos olhos de minha mãe eu não quis dizer muito. Deparei com pai, mãe e irmão: e logo depois pai e irmão se foram e mãe e eu ficamos.
E durante toda minha vida tem sido assim: uma parte comigo, a outra pro desconhecido. Buraco, que ora negro, ora o vir a ser, fez razão de sempre sentir.
A minha morte me faz questionar: a minha não morte, essa que agora está comigo enquanto escrevo, me faz continuar a questionar.

2 comentários:

  1. oi querida,
    fiquei curiosa, e os olhos inseguros o que encontram hoje?
    boas terças,
    bj
    gerusa

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    Respostas
    1. Os olhos deixaram de serem inseguros:
      Agora assistem a liquidez.
      Estavam certos!
      A dúvida, fêmea esquizofrênica.
      Mas, neste momento, os olhos veem pela palavra:.
      Organiza o caos dos sentidos.
      Navega entre luzes, sons, sempre desperta: não há sossego quando o coração é uma pergunta
      Um bj

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