terça-feira, 4 de março de 2014

Mulher de 30

-Mas você é uma mulher tão experiente!
Lembrava do que seu paquera virtual havia dito na última conversa…ainda se usa a palavra “paquera”?
Não, não. O fato de ter ficado tanta tempo com uma pessoa justamente a tornava um paradoxo. Era muito experiente em conviver com a mesma pessoa, mas não era experiente com os homens. Era seu primeiro encontro depois do já distante divórcio, sem filhos. O fato foi que repetiu a frase para si enquanto se arrumava para seu primeiro encontro “olho no olho”: se achava até moderna com a situação. 
Afinal, aprendeu que profundo é alguém em qualquer lugar que tenha olhos para sentir, pele para enxergar...não tinha preconceitos, mas quando pensava no que dizer, em que observar...Será que dará certo? Falava para si novamente a citação de seu affair. Não, não podia querer casar no primeiro encontro. Mas era isso, justamente isso: as pessoas, quando casavam, já tinham começado a casar faz tempo. Mas não era cedo? Até ontem falava para si "Dessa água não beberei mais"! Besteira! E a sede, vai pra onde?
Entrou no restaurante e o enxergou de longe: ufa, ao menos as fotos eram dele. Tentou não mostrar logo de cara que não estava querendo casar e ter filhos e que suas células matriarcais podiam esperar caceta! Nasceu para acreditar. Ficar sozinha, deus a considere!
Tiveram um jantar agradável, ele contou sobre suas coisas, perguntou as dela. Discurso pronto, ensaiado, tudo o que ela evitou fazer.
No outro dia, ele mandou mensagens, somente. Os tempos mudaram, se bem que nunca tinha recebido flores após ter jantado com alguém. Bobagem, só teve o marido. Ex, ex! Depois ligou, ligou, e depois mais duas vezes. Não gostou. Poderia ter ficado em uma trindade providencial mas pesou a mão nas ligações. Ué, não queria saber se ia dar certo? A questão foi que pensou em tudo o que tinha vivido em seu último e único relacionamento, e ficou com medo de se afundar...Desconversou, não retornou, impôs dúvidas e defeitos encontrados com câmeras em slow motion (não era tão ultrapassada assim).
            Mas continuava em busca do príncipe encantado: que fosse matematicamente infalível, romântico em sua predestinação, valente como um homem de aço, mas sem ser o babaca da vez, a célula perfeita para sua continuação na Terra. E se fosse ele? Pior de tudo, no fundo no fundo dos lapsos escassos e momentâneos que tinha, sabia que esses não existiam.

Teve raiva do seu pai, que nunca a ensinou como trocar pneus. Da mãe, que a deixou vendo muito “Sessão da tarde” quando menina, e consequentemente dos americanos e seu cinema hollywoodiano. E até da Xuxa e sua emotividade descabida, mal resolvida. Não, não era ele. Não deu um giro em seu corpo e fez do abraço parecer uma dança; não mostrou jeito com alguma arte, nem tocava um violãozinho?
Sonhar era como droga, mesmo efeito: fazia se desligar da realidade. Só lhe tomava tempo, mas nessas horas não estava já com trinta, e sim apenas com trinta. Ainda não estava pronta. Era madura suficiente para saber pelo menos disso.

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