Ir ao show de Paul McCartney foi interessante mesmo antes
de começar. Perceber as movimentações nas ruas próximas ao estádio, as pessoas com suas capas de chuva em plena quarta-feira dava um tom antimonotonia para
nós, terráqueos de São Paulo City.
Quão desesperador foi chegar ao estádio e ver essas mesmas
pessoas, agora em mar, construirem filas gigantescas. Fiquei desesperada,
pois minha intenção era chegar cedo mas o trânsito, misturado a chuva, com o
fluxo de carro por conta justamente do show de McCartney, fez tudo ficar
terrivelmente lento, populado, caos.
A sorte (?) foi que o portão da pista Premium estava sem
filas. Entrei e me deparei com poucas pessoas em frente ao palco, tudo por
volta das 19h50min. E então a peregrinação rumo à uma noite alucinante começou.
Bom, por estar sozinha não me submeti a tomar qualquer coisa. Desde água a bebida alcóolica, o fato é que não podia me
dar ao luxo de ir ao banheiro e perder meu lugar. Aliás, ao visualizar as
poucas pessoas que estavam a minha frente, esses com credenciais do show,
provavelmente do fã-clube e também do ingresso “hot-spot”, que dava direito a
pessoa ter acesso a passagem de som, ao staff de Paul e a pista Premium, o fato
é que todo mundo estava bem vermelho, pinta de quem esteve o dia todo esperando
a abertura dos portões para grudarem a barriga na barra de contenção.
Um grupo de jovens que estava ao meu lado conversava
sobre o show do dia anterior. Eu tinha dado uma olhadela no MultiShow mas
preferi tirar do canal para eu mesma não romper as surpresas que teria. Mas os
adolescentes falavam era do show no sentido físico: sim, eles tinham ido na
noite anterior também! A gente quando nasce pobre e ascende para a classe média
de vez em quando não esconde tal trajetória. Minha pergunta idiota foi: "Então
vocês pagaram dois shows? Não, não, faltou um deles responder, “Paul fez estilo
baciada: leve dois e compra um...”
Eles comentaram sobre os shows que Paul realizou nos outros estados, as expectativas para alguma mudança no playlist da noite “Qual será a música
que ele abrirá hoje”? Eis a magia do amor: esperar encontrar sempre algo novo,
diferente, naquilo que já se conhece...mas estará no outro tal magia ou esse
novo vem de você?
A verdade é que os jovens eram fofos, como todos os
jovens: uma das meninas estava vestida de Paul by Sargent Peappers...eu amei,
linda, linda.
Por quase todo o show eles adivinhavam qual era a música
pela mudança do instrumento, pelo primeiro acorde. E não conheciam só os
clássicos. “Everybody out there” foi ecoada pela maioria das pessoas.
Paul é generoso com os fãs. E detalhista, já que é ele
mesmo quem assina a direção de cenas de seus espetáculos.
A iluminação estava perfeita: os refletores, juntamente
com as imagens projetadas, “conversavam”
com as canções. Impecabilidade
no som, músicos que constantemente trocavam instrumentos e revezavam-se nas
posições desses.
Quis colher todos os detalhes de Sir McCartney em minhas
retinas: os instrumentos de cada composição (sim, o piano de Lady Madonna é
muito bacana, por isso sempre gostei de seu timbre), a maneira como dedilhava,
sua magreza e brancura.
Em meio ao intervalo de uma música, um homem grita “Se
fosse mulher eu dava para você, Paul”. Bom, se tudo acaba em sexo, seja físico
ou verbal, esse sempre melhora se vir acompanhado de boa música. Ali estava um homem
que em algum momento soube agradar algum gosto musical, esteja ele nos anos 60,
70, 80 e assim por diante.
De Beatles a Wings, passando por de Jimi Hendrix, o show
é um show por si só: em “Live it Die”, o primeiro estouro que a canção fez me
deixou atordoada. A composição trabalha
com tanto barulho e pirotecnia que ao final até Paul brincou tapando os ouvindo e fazendo alusão à
altura dos efeitos.
Paul ora é simples e mágico, como com seu violãozinho em Blackbird, (embora dessa vez houve inovação com relação ao show de 2010, já que Paul é elevado por uma parte no palco), ora é vibrante e tecnológico como em “Helter Skelter”, porque todo o palco se mobiliza num jogo de luzes e desmontes em consonância com a linguagem midiática e com a pegada pesada que a canção possui.
Paul ora é simples e mágico, como com seu violãozinho em Blackbird, (embora dessa vez houve inovação com relação ao show de 2010, já que Paul é elevado por uma parte no palco), ora é vibrante e tecnológico como em “Helter Skelter”, porque todo o palco se mobiliza num jogo de luzes e desmontes em consonância com a linguagem midiática e com a pegada pesada que a canção possui.
Dos clássicos dos Beatles, maravilhosa surpresa: I’ve
just seen a face; dos Wings, “Listen what the man said”. Fiquei mais cética do que emocionada, ao contrário do primeiro show
que fui, em 2010. Só em “The Long and Winding Road” transbordei...
Fui embora meio distante em tempos, lembranças. A chuva, de água mesmo, não parou um instante de cair...Para os vietnamitas do sul, a água tem simbologia regeneradora, visto que está associada à poção de imortalidade. Acho que é isso que aconteceu comigo: depois desse show tenho amor por esse homem suficiente para repassá-lo às minhas gerações futuras...
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