quinta-feira, 23 de abril de 2015

Quando o amor é ressignificado ou os vietnamitas tem razão

Ir ao show de Paul McCartney foi interessante mesmo antes de começar. Perceber as movimentações nas ruas próximas ao estádio, as pessoas com suas capas de chuva em plena quarta-feira dava um tom antimonotonia para nós, terráqueos de São Paulo City.
Quão desesperador foi chegar ao estádio e ver essas mesmas pessoas, agora em mar, construirem filas gigantescas. Fiquei desesperada, pois minha intenção era chegar cedo mas o trânsito, misturado a chuva, com o fluxo de carro por conta justamente do show de McCartney, fez tudo ficar terrivelmente lento, populado, caos.





A sorte (?) foi que o portão da pista Premium estava sem filas. Entrei e me deparei com poucas pessoas em frente ao palco, tudo por volta das 19h50min. E então a peregrinação rumo à uma noite alucinante começou. Bom, por estar sozinha não me submeti a tomar qualquer coisa. Desde água a bebida alcóolica, o fato é que não podia me dar ao luxo de ir ao banheiro e perder meu lugar. Aliás, ao visualizar as poucas pessoas que estavam a minha frente, esses com credenciais do show, provavelmente do fã-clube e também do ingresso “hot-spot”, que dava direito a pessoa ter acesso a passagem de som, ao staff de Paul e a pista Premium, o fato é que todo mundo estava bem vermelho, pinta de quem esteve o dia todo esperando a abertura dos portões para grudarem a barriga na barra de contenção.







Um grupo de jovens que estava ao meu lado conversava sobre o show do dia anterior. Eu tinha dado uma olhadela no MultiShow mas preferi tirar do canal para eu mesma não romper as surpresas que teria. Mas os adolescentes falavam era do show no sentido físico: sim, eles tinham ido na noite anterior também! A gente quando nasce pobre e ascende para a classe média de vez em quando não esconde tal trajetória. Minha pergunta idiota foi: "Então vocês pagaram dois shows? Não, não, faltou um deles responder, “Paul fez estilo baciada: leve dois e compra um...”
Eles comentaram sobre os shows que Paul realizou nos outros estados, as expectativas para alguma mudança no playlist da noite “Qual será a música que ele abrirá hoje”? Eis a magia do amor: esperar encontrar sempre algo novo, diferente, naquilo que já se conhece...mas estará no outro tal magia ou esse novo vem de você?
A verdade é que os jovens eram fofos, como todos os jovens: uma das meninas estava vestida de Paul by Sargent Peappers...eu amei, linda, linda.



Por quase todo o show eles adivinhavam qual era a música pela mudança do instrumento, pelo primeiro acorde. E não conheciam só os clássicos. “Everybody out there” foi ecoada pela maioria das pessoas.



Paul é generoso com os fãs. E detalhista, já que é ele mesmo quem assina a direção de cenas de seus espetáculos.
A iluminação estava perfeita: os refletores, juntamente com as imagens projetadas,  “conversavam” com as canções. Impecabilidade no som, músicos que constantemente trocavam instrumentos e revezavam-se nas posições desses.







Quis colher todos os detalhes de Sir McCartney em minhas retinas: os instrumentos de cada composição (sim, o piano de Lady Madonna é muito bacana, por isso sempre gostei de seu timbre), a maneira como dedilhava, sua magreza e brancura.



Em meio ao intervalo de uma música, um homem grita “Se fosse mulher eu dava para você, Paul”. Bom, se tudo acaba em sexo, seja físico ou verbal, esse sempre melhora se vir acompanhado de boa música. Ali estava um homem que em algum momento soube agradar algum gosto musical, esteja ele nos anos 60, 70, 80 e assim por diante. 





De Beatles a Wings, passando por de Jimi Hendrix, o show é um show por si só: em “Live it Die”, o primeiro estouro que a canção fez me deixou atordoada.  A composição trabalha com tanto barulho e pirotecnia que ao final até Paul  brincou tapando os ouvindo e fazendo alusão à altura dos efeitos.










Paul ora é simples e mágico, como com seu violãozinho em Blackbird, (embora dessa vez houve inovação com relação ao show de 2010, já que Paul é elevado por uma parte no palco), ora é vibrante e tecnológico como em “Helter Skelter”, porque todo o palco se mobiliza num jogo de luzes e desmontes em consonância com a linguagem midiática e com a pegada pesada que a canção possui.




Dos clássicos dos Beatles, maravilhosa surpresa: I’ve just seen a face; dos Wings, “Listen what the man said”. Fiquei mais cética do que emocionada, ao contrário do primeiro show que fui, em 2010. Só em “The Long and Winding Road” transbordei...



Ao final, chuva de papéis mostraram um show que mais pareceu um espetáculo circense (nossa, só agora me dei conta ao escrever isso que não foi à toa que Paul executou pela primeira vez “Being for the Benefit of Mr. Kite!”...AHÃÃÃ!!!).



Fui embora meio distante em tempos, lembranças. A chuva, de água mesmo, não parou um instante de cair...Para os vietnamitas do sul, a água tem simbologia regeneradora, visto que está associada à poção de imortalidade. Acho que é isso que aconteceu comigo: depois desse show tenho amor por esse homem suficiente para repassá-lo às minhas gerações futuras...






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